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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Infantilidade verde-amarela: Entre heróis e bandidos.

Como já me expressei aqui várias vezes, mais decepcionante que a derrota para a Holanda, foi ver a seqüência de verborréias e atos tão hilários que preferi ironizá-los para poder suportá-los. Foi horrível ver a maneira como a derrota brasileira naquele jogo em específico foi encarada. Onde está nossa esportividade? Se esperamos que o Brasil tivesse que ganhar todas, é melhor comprar uma bola e um troféu para cada brasileiro devidamente acompanhados de sessões de terapia, porque certamente isto não é normal.

Também vi com muita dor, muitos milhares, diria até, milhões de brasileiros tirando as bandeirinhas dos carros e as camisas e jogando-os fora como se fossem material desprezível. Primeiro, o Brasil é muito mais que um jogo e mesmo que uma Copa do Mundo. Depois, a Copa ainda não terminou ainda. Que falta de espírito esportivo!

Ouvi, ouvi e ouvi críticas sobre o emocional de Dunga e dos seus jogadores... Interessante que não vi nenhuma autoridade brasileira trabalhando bem o assunto: A mídia brasileira (principalmente via TV, e mais principalmente ainda a sra. Rede Globo e seus famigerados jornalistas) e principal responsável por toda essa empolgação e parafernália foi a que mais pisou na bola nesse campo. Não ouvi nenhuma autoridade brasileira trabalhando nossa brasilidade que é muito maior que um jogo de futebol.

Fiquei muito, mas muito triste quando assistia a chegada de Dunga em Porto Alegre e dizia que em semanas estaria conversando com o Presidente da CBF sobre seu futuro, e naquele exato momento a própria CBF o demitia “pela internet”, sem o menor escrúpulo, respeito ou consideração.

Que diferença da chegada da seleção brasileira no Brasil, comparada a da Argentina em Buenos Aires, a da Inglaterra e a de Gana então? Falando dos nossos “hermanos”, vi em vários tamanhos, cores e imagens mais de 20 mil argentinos esperando por sua seleção de volta à sua pátria. Uma seleção que foi goleada pela Alemanha, mas não deixou de ser amada, querida, respeitada por isso.

Num país onde as pessoas trocam de igreja só porque as mesmas não fazem tudo o que elas querem ou porque os pastores não permitem seus cabrestos; onde da mesma maneira, as pessoas mudam de igreja quando não “encontram um deus tão manipulável como gostariam” ou que “não faz aquilo que tanto querem”, e vão procurar outro palco ou se esconderem em meio ao desconhecido, ou procuram um lugar “onde usam pouco a cabeça, nada de razão e muito de emoção doentia” sim porque é mais simples culpar Deus por tudo e não ter responsabilidade com nada.

Famílias que estão ficando acostumadas a jogar seus filhos pelas janelas, em sacos de lixo, matar um membro da própria família porque vai atrapalhar seus planos futuros. Abandonar a família porque não mais satisfaz seus desejos e fantasias egoístas.

Num país onde bandidos são candidatos e eleitos (e é preciso ter uma lei para barrá-los, daí a lei “ficha limpa” – e mesmo assim já cheia de exceções) e se tornam heróis, não é de se admirar que as pessoas de bem se tornem bandidas simplesmente porque não conseguiram atingir as expectativas daqueles que, por falta de um objetivo maior ou de uma perspectiva de vida mais abrangente, vivem orbitando entre heróis (quando preenchem seus desejos) e bandidos (quando frustram suas expectativas). Onde “Democracia” resumiu-se em “quando eu mando e você obedece”, e “ditadura” é “quando você manda e eu tenho que obedecer”.... O Brasil é muito mais que um jogo de futebol e muito maior que uma Copa do Mundo.

Falando em Democracia, não ouço ninguém discutindo, por exemplo, porque o esporte mais democrático do país é liderado por mãos de ferro do senhor Ricardo Teixeira por mais de 22 anos de forma direta como presidente da CBF e de forma indireta quando na sombra do ex-sogro João Havelange. E os brasileiros acham tudo isso normal! Que diferença!

Todas as seleções de futebol do mundo inteiro se preparam para renovar seus jogadores, contratar novos técnicos, treinar para a Copa de 2014. Isto não é mérito nem demérito só do Brasil. No final, teremos 32 seleções classificadas para aquele grande torneio mundial. De novo, a Copa terá apenas uma seleção vencedora. Espero que nenhum brasileiro esteja pensando que “só se joga futebol no Brasil e que não temos nenhum adversário à altura de nós”. Isto é “paranóia maradoniana”. Então, agora perdemos e corremos para nos esconder em casa e nem assim tivemos abrigo. E em 2014, para onde iremos correr? Para a Bolívia? Ah, a Venezuela? Possivelmente para o Irã! (o caminho está ficando batido). Ou vamos ficar fazendo caras e bocas diante dos nossos convidados? Ou brigando e discutindo diante das câmeras de TV do mundo inteiro procurando o próximo culpado... Talvez tenhamos que repensar a poesia do sábio poeta Chico: “Joga pedra da Geni... Ela foi feita pra apanhar, ela foi feita pra cuspir.... maldita Geni”.

Rev. Mauro Clementino.

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