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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Chupim e o Anum Branco... e o parasitismo social brasileiro.

Para quem não conhece de pássaros, o Chupim é preto que chega a refletir um tom azulado graxoso ao sol. E o Anum Branco cinza claro, como o próprio nome diz, é quase branco... Ouvi outro dia a história de um pássaro chamado Chupim. O Chupim é um pássaro insetívoro, e que nunca choca seus próprios ovos. Ele busca e acha ninhos de outras aves, muitas vezes muito menores que ele próprio, despeja ou come os ovos que acha lá e coloca lá um único ovo seu. Quando os pássaros chocam e nasce o passarão, alimentam-no como se fosse descendência própria. Trabalham incessantemente para alimentar um pássaro tão grande e tão esfomeado, à custa de grandes esforços e de sacrifícios dispendiosos...


O chupim é capaz de parasitismo social.Criar um filhote de Chupim em seu ninho representa um enorme prejuízo para os pais, uma vez que ao nascer, o Chupim lança todos os ovos e eventuais filhotes que já tenham nascido para fora do ninho, garantindo mordomia exclusiva. Para os "pais", a regra é simples, o que está dentro do ninho é meu e o que está fora não. Um grande prejuízo para o parasitado e uma grande vantagem para o parasita, mais uma vez terreno fértil para a corrida da vida.

Interessante que, exatamente quando escrevia esta história, ela aconteceu em nossa propriedade e também no quintal da casa da nossa secretária. Em frente à nossa propriedade, temos seis quiosques. Antes eram de maneira, mas foram refeitos e ampliados. As pilastras acompanham a mesma arquitetura do prédio e foram construídas com tijolinhos à vista. No lugar da madeira para suporte das telhas foram usadas treliças de metal. Mesmo assim, vários pássaros decidiram fazer seus ninhos usando este espaço. Pois bem, um casal de anum branco procurou um lugar bem estratégico e também fez o seu ninho na entrada, próximo ao portão principal.

Um dia ao chegar, reparei que havia cascas de ovos no chão. Pensei com meus botões: - Pobre passarinho, nem bem estreou o ninho, já perdeu seus ovos... Passaram-se os dias e esqueci-me do incidente.

Semanas depois, algo no mínimo irônico aconteceu. E todos nós que estávamos na secretaria rimos muito, muito mesmo. Saltitando e dando pequenos vôos para cá e para lá estavam a mãe e o pai anum e o filhote mais esquisito da paróquia: um chupim. Por mais que os pais se esmerassem em buscar pequenos insetos, enfim, em encher-lhe o bico de comida, o filhote impostor, além de ser ingrato e muito mal educado, era totalmente insatisfeito. Por várias vezes o vi bicando a cara da mãe demonstrando insatisfação no alimento dado. Por muitos dias escutamos os sons diferentes dos pais e do filho mais esquisito do mundo em nosso jardim.

O mais interessante disto tudo é que, os pais chupins não apareceram. Tão sutis quanto foram em derrubar os ovos dos anuns, em botar seus ovos no lugar dos outros verdadeiros, desta vez foram além da sutileza, tornaram-se invisíveis. Enquanto isso, o casal de anum branco trabalhava incansavelmente para cuidar do filhote chopim irrequieto, insatisfeito, incomodado e insuportável. É incrível você ver a inquietação dos anuns em tentar satisfazer esta criaturinha esquisita. Quem tem ouvidos ouça...

Pr. Mauro Clementino.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Fazendo a Diferença: Na vida podemos ser escultor ou escultura.

Fazendo a Diferença: Na vida podemos ser escultor ou escultura.

Fazer a diferença é dar aquela contribuição única, no momento certo, que gera os resultados esperados.

Em uma reunião de negociação, as pessoas caminham para um impasse. As condições oferecidas pelos compradores são inaceitáveis pelos vendedores, que vão perder dinheiro no curto prazo. Naquele momento, você apresenta um argumento que compensa a pequena perda imediata, com ganhos substanciais no médio prazo. Fica claro que aquela é a melhor solução para todos. A negociação entra num estágio de "ganha – ganha" e logo o contrato está assinado. Naquele momento, sua iniciativa e visão ampliada fizeram a diferença.

Num trabalho comunitário, por exemplo, servindo refeições, a fila está enorme, as pessoas estão reclamando, os que servem estão desorganizados e perdidos. Aí entra você e com poucas palavras e muita competência, encoraja os colaboradores e rapidamente organiza tudo, acabando com as filas e garantindo que cada um tenha sua refeição. Você causou encantamento. Naquele momento, só você tinha a competência para resolver aquela situação. Uma ação era necessária e você não se omitiu. Você disse as palavras de estímulo que incentivaram cada um a dar o melhor de si. Você orientou sobre quem faz o que e em que seqüência. Naquele momento você fez a diferença.

Quem não faz diferença passa despercebido, talvez não atrapalhe, mas com certeza não contribui. Quem não faz diferença é apenas um rosto oculto e enevoado no meio de uma multidão de desconhecidos.

No dia 04 de Outubro, dei uma olhada nos principais jornais do Brasil e do mundo. Estava deveras curioso sobre o que estavam dizendo sobre o resultado das eleições no Brasil. A uma só voz tanto a mídia brasileira quanto a internacional dizia: “Os cristãos evangélicos fizeram a diferença e levaram as eleições para o segundo turno”. Arrepiei-me da cabeça aos pés, muita embora estivesse esperando ansiosamente por isso.

Ontem, dia 07/10, ao ouvir o programa “Bom dia Brasil”, ouvi o candidato a vice-presidente, senhor Michel Temer, dizer textualmente as seguintes palavras: “A presidência é nossa, é nossa e vamos conquistá-la a qualquer custo. A Dilma fará a fachada (com o público) e nós faremos os bastidores. O que está em jogo é muito mais que partidos, é o poder pela direção do Brasil” O seu olhar era frio e profundo. Eu entendi muito bem o que ele quis dizer, principalmente no reio espiritual.

Você viu que imediatamente após as eleições a candidata a presidente já falou em visitar templos, e isso e aquilo. Não me admiro se ela aparecer sendo batizada, tomando ceia ou dando “tristemunhos” pelo Brasil afora. Estamos em plena era do vale tudo. Mais um motivo para mantermos nossa posição.

Tudo começou com um pronunciamento do Pastor Paschoal Piragini, na PIB de Curitiba-PR. Conheço pessoalmente o Pastor Paschoal, de sua índole e postura incontestáveis, e sei que ele sabia muito bem do que estava falando. A propósito, todos os 18 (dezoito) pastores da PIB de Curitiba receberam e leram “O Grito”. Colocando-me ombro a ombro com Pastor Paschoal, tomei postura semelhante aqui na Terceira Igreja também.

Paralelamente à minha postura final, eu já vinha fazendo a minha parte como profeta cidadão. Doei 300 (trezentos) livros para pequenos e médios empresários, 300 (trezentos) livros para os pastores batistas de todo o estado de Mato Grosso do Sul; e mais 160 (cento e sessenta) livros para estudantes de Medicina. E vou fazer ainda muito mais. E não é só no campo da informação e da influência que estou batalhando não. No campo espiritual, minha espada não cessa de guerrear dia e noite contra as hostes da maldade que não querem nosso país livre.

No primeiro turno mostramos que nossa voz e postura fizeram diferença mesmo. No segundo turno, reafirmaremos que não estamos aqui para brincadeira e nem para nos deixarmos enganar. Mudar de postura agora só para conquistar o nosso voto não é apenas um oportunismo eleitoreiro. É deficiência de caráter mesmo.

Em tempo: Não sei se você sabe, ma o clip do pastor Paschoal que foi visto e analisado por quase três milhões de pessoas foi censurado. Veja o que você lê ao tentar acessar o vídeo: “Segundo a sinalização da comunidade de usuários do YouTube, este vídeo ou grupo pode ter conteúdo impróprio para alguns usuários. Para visualizar este vídeo ou grupo, faça login ou inscreva-se para confirmar que você tem 18 anos ou mais”. Veja você, se ainda estamos na luta pelo segundo turno e a coisa já está assim, imagine depois?



Pr. Mauro Clementino.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

NÃO SEJA INÚTIL NA BATALHA

Martin Lloyd-Jones


Muitos de nós simplesmente seguem uma rotina, sem pensar, sem inteligência. Soa estranho dizer isso num período como este na história da Igreja Cristã, mas na Igreja há muitos que não têm idéia da razão pela qual estão ali, exceto pelo fato de que foram habituados a freqüentar os cultos. Não fosse isso, não estariam ali. Nunca pensaram nessas coisas o bastante para romper o hábito; seguem uma rotina.

Há pessoas que são sem entendimento, que não têm a mínima idéia do conflito espiritual, não têm a mínima idéia da crucial importância da Igreja Cristã numa hora como esta. Seguem o mesmo itinerário e fazem a mesmíssima coisa domingo após domingo, simplesmente como parte da rotina da vida. Entretanto lhes falta entendimento. E esse o tipo da coisa que o apóstolo tem em mente. Tais cristãos, é claro, já estão derrotados; são inúteis na batalha. Não têm valor nenhum no exército. Os cristãos ativos têm que carregá-los porque eles não conseguem mover-se; não estão prontos para alguma súbita mudança de tática. Eles são passageiros que temos que levar, e sempre são um grande empecilho para um exército. Eles têm sido um grande problema em toda a história das guerras.

Por outro lado, há também muitos que vivem em função das suas próprias atividades e que não têm ciência de que há um conflito espiritual. Para eles, o cristianismo é o que eles fazem. Isso faz parte do perigo de amoldar-se a um tipo. E triste ver pessoas que recentemente entraram na vida cristã dentro de um curto período de tempo repetindo frases e chavões. Não têm idéia do que significam; estão apenas imitando os outros; estão pegando o linguajar, as expressões e as atividades. E isso continua indefinidamente. Pode-se perceber que elas não estão vivamente conscientes da verdadeira situação.

Permita-me admitir com sinceridade que estas exigências estritas se aplicam a todas as partes da Igreja, tanto aos pregadores como aos membros e freqüentadores. Não há nada que eu saiba que seja tão completamente oposto ao que o apóstolo está ensinando aqui como o pregador profissional, o homem que adota certo maneirismo e certo tom de voz, o chamado tom de voz clerical, e todas as outras características da "veste" sacral. O profissional do púlpito é uma grande maldição. É um traidor no exército do Deus vivo! Os que procedem assim estão se amoldando a um modelo. Não estão tendo entendimento, e revelam uma incapacidade de entender o profundo caráter da vida cristã.

Todas essas coisas são apenas manifestações daquele "estar em paz” enquanto uma tremenda batalha está sendo travada. Um cristianismo respeitável ou formal num tempo como este é inútil. É por isso que a Igreja está decaindo e exibindo nada mais do que um cristianismo respeitável, "Moralidade com um toque de emoção", como Matthew Arnold o descreveu, sem nenhum valor. Falta entendimento espiritual. Não há nada daquela mobilidade e agilidade que são essenciais numa época como esta.

A Igreja atual tem muita semelhança com Davi vestido com a armadura de Saul. Golias desafia Israel com sua armadura, sua lança e sua espada; e Israel se abala e treme, e não sabe o que fazer. Todos estão morrendo de medo deste homem que matou tantos e se exibe indomável, forte e poderoso. Então Davi, jovem, simples pastor, chega ao acampamento israelita, e, movido pelo Espírito de Deus, apresenta-se para responder ao desafio de Golias. Saul e os seus companheiros, sem qualquer discernimento espiritual, dizem: "Ele parece convencido de que poderá fazê-lo; vamos buscar a armadura de Saul e colocá-la nele". Acreditavam que a única maneira pela qual alguém poderia pelejar com Golias era com a armadura de Saul. Por isso a colocaram nele.

Mas Davi percebeu logo que se fosse vestindo aquela armadura, seria morto. Mal podia mover-se, a armadura era pesada demais e grande demais para ele. E assim livrou-se dela. "Não vou conseguir lutar usando a armadura de Saul", disse ele; "tenho que usar o meu método de combate e, em nome do Deus vivo, é o que vou fazer." Ele queria ter mobilidade, e ser capaz de mover-se rapidamente e responder e reagir a cada movimento de Golias. Davi recusou-se a lutar usando a armadura de Saul. Não permitam que os seus amigos vistam você com a armadura de Saul. Tire a sua funda e as suas pedras, e use essas coisas enquanto neste mundo, para a glorificação do nome de Deus.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Falta de Memória Afetiva



Abrindo o Baú - O Resgate da Memória Afetiva (Capítulo 7 do livro O Grito)

Uma das menções mais comuns ao Brasil refere-se ao fato de não possuirmos memória. Povo sem memória, que possibilidades reais tem de superar as várias mazelas sociais, políticas e religiosas, a injusta distribuição de renda se não tem conhecimento de sua própria história, das raízes desses graves problemas que assolam o cotidiano, da forma como tentam debelar tais dificuldades ao longo do tempo, das atuações governamentais e suas repercussões, dos posicionamentos assumidos pela sociedade civil e da própria cultura nacional?

A discussão é longa e pode resultar em diversas ramificações. As pessoas têm opiniões diferentes e, por se tratar de um assunto extremamente delicado, talvez não se chegue a lugar nenhum.

Crimes absurdos que em questão de minutos se apagam e são esquecidos. Apenas quem sofreu a perda terá o que remoer pelo resto de suas vidas. Porém, no auge do fato, estavam todos, aparentemente, juntos e torcendo pela justiça.

Agora vêm as dúvidas: Será que temos memória curta? Será que só funcionamos quando a pressão é grande? Por que não continuamos aquilo que começamos? A questão aqui não é memória curta não, acho que todos se lembram do caso Daniela Perez e tudo que lhe aconteceu em Dezembro de 1992 .

Crime bárbaro, hediondo! O que acontece na verdade é uma sociedade que em sua maioria não pensa no coletivo e, quando não se pensa dessa forma, acabamos perdendo uma força incrível, um poder tremendo. O poder da ação conjunta.

Pena que a maioria das pessoas não sabe disso e nem se dêem conta do que são capazes, uma pena! Falta na verdade uma disciplina entre uma comunidade, um povo. E nós brasileiros não temos essa cultura. Por vezes pensamos: Ahhh, nossa, ainda bem que não foi comigo. Ainda bem que não foi com o meu filho...ledo engano, afinal, não sabemos do amanhã. As tragédias, as coisas ruins não acontecem só com o vizinho ou na telinha da TV. E coisas boas e ruins não acontecem só em novelas ou nos filmes. Aliás, eles são inspirados na realidade da própria vida. E é exatamente por isso que muitas vezes nos vemos nos filmes e nas novelas por eles retratam o nosso quotidiano.

Vivemos uma inversão de valores total e irrestrita. É o tempo da imagem. É o tempo do poder a qualquer preço. É o tempo do ter a qualquer custo. O que importa é a moeda, é o dinheiro, é o ouro. Não importa a que preço e nem como conseguir, o importante é ter. Cada cabeça uma sentença. Mas, as pessoas se expõem demais, como: ficar nua em revistas, prostituir-se aqui ou em outro país, participar de reality shows e passar por todo o tipo de situações, por vezes até vexatórias e humilhantes. E, muitas vezes, apoiados pelos pais e seus parentes que aparecem e dizem que seus filhos estão indo muito bem, que eles se sentem orgulhosos por estarem enjaulados e expostos pois a “causa é justa”.

Podemos lembrar o caso daquela moça nos EUA, que se prostituía e fez um político daquele país renunciar ao cargo. Mas, o melhor ainda está por vir: Voltou com fama para o Brasil, saindo até por um portão especial do aeroporto. Passou pelos programas de TV e quando aparecia na rua não falava quase nada. A explicação para isso, segundo ela, é porque senão ninguém pagaria por suas declarações. Mas uma “celebridade instantânea” que não tem nada a dizer. Nada a oferecer.

Pessoas que vivem de escândalo em escândalo como Britney Spears e Paris Hilton, tem, na maioria das vezes, os seguintes pensamentos: se dá dinheiro, então vamos lá! Se dá projeção, então vale a pena. Por que estas pessoas fazem isso? Porque têm certeza que têm público garantido. Tem gente que vive de esterco. Alimentam-se de estrume. A torcida pelo final feliz de Ferraço, personagem interpretado pelo ator Dalton Vigh, da novela Global “Duas Caras”, mostrou bem essa situação. Ele chegou onde chegou a qualquer preço, foi vendido a um homem que o “educou” assim. Se o otário existe não se deve ter pena porque ele (o otário) está ali esperando ser enganado. E o “esperto” aprendeu o como enganar. É simplesmente assim...e ele seguiu o que aprendeu.

Mas, voltando para a realidade, as pessoas que assistem só vêem o lado bom de toda a história. Porém, toda essa inversão de valores tem um preço a médio e longo prazo e, aqui, podemos voltar ao caso do Ferraço que acabou sendo julgado pelo seu filho, que teve uma educação dentro dos padrões da honestidade e dos valores corretos. Interessante que neste e em tanto outros episódios, a novela e a ficção estão praticamente nos obrigando a refletir sobre a vida.

É sem sombra de dúvida um preço muito alto a ser pago, psicologicamente falando. Infelizmente, nós conhecemos muito pouco tudo o que nos move e o que está no nosso inconsciente.

Muitas e muitas vezes nos defrontamos com perguntas a respeito da validade de se estudar a história, de se analisar os fatos históricos. Em várias delas a idéia da falta de memória como sendo um dos fatores de atraso de nossa sociedade foi recorrente.

A incapacidade de criarmos elementos de identidade nacional é decorrente dessa falha. As constantes repetições de erros nos processos e escolhas eleitorais é repercussão desse problema. O desvio de verbas e a corrupção endêmica em determinados setores públicos é sintoma dessa falta de informação ou de não processar esta informação de forma adequada. “Pensamos: Ah, deixa correr. Afinal, quem vai se preocupar com isso? Isso sempre foi assim. Não sou eu quem vai mudar essa situação...”

Os meninos de rua, as drogas que atingem nossa juventude, a cartolagem que destrói o futebol brasileiro, a epidemia de dengue, da gripe suína e muitas outras situações, de certa forma, poderiam (ou ainda podem) ter sido evitadas se olhássemos para trás, estudando nosso país e sua história.

É óbvio que uma prática como essa não seria suficiente para podermos resolver todas as questões nacionais mais prementes, mas que ajudaria, isso é muito claro.

A memória é formada pelas lembranças que estão na consciência. Nos primeiros anos de vida não existe uma memória contínua, como também não há uma consciência pronta, mas sim, pontos isolados. Podemos dizer que existe consciência quando a criança se refere, a si mesma, na primeira pessoa. Consequentemente, nesta fase, haverá uma continuidade da memória.

Para a formação da memória, a atenção é fundamental. Esta, por sua vez, pode ser mobilizada pelos afetos. Tendemos a prestar mais atenção nas coisas de maior interesse. Os assuntos que nos trazem prazer e satisfação são os que dispensaremos mais tempo em conhecê-los e compreende-los. Assim os afetos estão na base da formação da memória.

Nossos afetos vão se aglomerando em torno de um determinado núcleo que trazemos conosco ao nascer, que são os arquétipos. Toda vez que houver uma renovação da qualidade do afeto, através de nossas experiências, mais carga será depositada ao redor deste núcleo formando, desta maneira, os nossos complexos. Eles são os motores que impulsionam nossas vidas.

Uma memória afetiva pode se desenvolver a partir de uma percepção sensorial como um odor, um som, uma cor, desde que tal percepção esteja ligada a um momento afetivo importante.

O resgate da memória afetiva é fundamental no nosso processo de desenvolvimento psicológico, de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Quando resgatamos nossas memórias estamos trazendo com elas a possibilidade de revisar, compreender e digerir ou de vomitar determinadas situações que podem estar bloqueando nosso ir em frente. Podemos estar paralisados, sem perceber, em situações antigas que não foram bem resolvidas e entendidas.

Ao acessarmos nossos registros pessoais antigos ou nem tanto antigos temos a oportunidade de transformar idéias e pressupostos que hoje podem estar contendo nosso desenvolvimento e nos deixando até mesmo doentes. Podemos transformar atitudes negativas perante a vida em outras mais positivas, facilitando o nosso crescimento. O resgate da memória afetiva, quando bem orientada, trará a possibilidade de ampliarmos nossa consciência na medida em que integramos qualidades ao nosso mundo atual.

Ampliar a consciência é aumentar a visão sobre nós mesmos e sobre o mundo; é desatar os nós de energia que ficaram presos em situações passadas que nos impedem de ver a vida com verdadeiros olhos adultos; é aceitar o novo e o diferente; é corrigir pressupostos que perderam a razão de ser e a capacidade de nos orientar na vida adulta. Como também mostra a nossa capacidade de dizer não seja a quem for ou a que proposta for. Mostra nossa capacidade de analisar o certo e o errado a partir de um contexto completo e não apenas dentro de um foco ou ação que nos é apresentada como sendo ideal, boa ou sacrossanta.

Quando trazemos à tona nossas memórias afetivas estamos elaborando e compreendendo experiências carregas de afetos do nosso passado e que se depositaram, no fundo da alma, sendo dolorosas ou não fazem parte da edificação do nosso ser.

Por isso, como nossa proposta neste livro é analisar os sistemas econômico financeiro, político e religioso, vamos às questões considerando às memórias afetivas...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vitinho, nosso filho especial, completou 20 anos no ida 12 de Setembro

Victor Leonardo Martins da Silva: Um anjo que Deus nos enviou há vinte anos.


“É a minha ovelha mais sensível, não sei se é a que dá menos trabalho, mas certamente é a que me dá mais alegria”.

Gostaria de usar deste espaço para compartilhar com a Terceira Igreja e convidados vinte situações sobre o nosso Vitinho no ensejo dos seus 20 anos hoje:

1. Sua primeira crise convulsiva quando ainda bebê, quase morremos de susto.

2. Quando ele mordeu um copo de vidro, ficando com os cacos dentro da sua boca.

3. Tudo no Victor dá em dobro ou triplo. Quando pegou catapora, ficou tão coberto de feridas que não havia espaço em seu corpo para o tocarmos.

4. Em um pique nique de casais jovens, o deixamos por minutos sozinho. Ao voltar ao carro ele havia mordido um prato de vidro e o seu corpo ficou coberto por cacos.

5. Em outra ocasião Mariza passava roupas com ele por perto. De repente, ele puxou o ferro de passar roupas pra cima dele e o ferro ficou grudado em sua perna.

6. Certa feita ele estava sozinho com André que foi dar-lhe banho. Vitinho caiu no banheiro e bateu a cabeça na quina da pedra de mármore e sofreu um corte profundo na nuca. André chamou a pessoa certa para ajudá-lo. Quando os encontrei no hospital, Vitinho ria enquanto todos choravam no Pronto Socorro.

7. Outro momento difícil foi quando ele teve que fazer cirurgia para cortar os tendões dos dois pés, logo acima dos calcanhares, que estavam atrofiando. Ficou por 40 dias com duas botinhas de gesso.

8. Quando Vitinho pegou Dengue e ficou febril e molinho, só fomos descobrir o que era quando a doença já estava indo embora e os outros de casa estavam infectados.

9. Quando sofreu cirurgia de catarata medicamentosa no olho esquerdo e tivemos que lhe colocar talas nos braços para não alcançar os olhos. Foi um mês de muita dificuldade principalmente para dormir.

10. Certa vez, quando retornando da escolinha, sem prestar muito atenção seu tio bateu seu rosto na porta do carro e Vitinho sofreu um corte bem no canto do olho direito quase afetando sua visão.

11. Em outra ocasião Vitinho escorregou na própria sandália e caiu de um degrau junto com sua professora em sua escolinha e sofreu um corte entre o supercílio esquerdo e a têmpora. Deus colocou um enfermeiro “anjo” para atendê-lo. Felizmente, pois o médico já estava todo estressado. O enfermeiro aplicou-lhe “pontos de cirurgia plástica” não lhe permitindo mais dores. Logo, logo ficou bom.

12. Uma vez, Vitinho engatinhou até ao armário da cozinha, apanhou uma faca amolada e a segurou pelo corte e ficou brincando. Só Deus para ter dado sabedoria para Mariza tirar-lhe a faca sem acidentes, apenas susto.

13. Um dia, coloquei-o no carrinho e fui dar uma volta no quarteirão do bairro. Quando passávamos enfrente a uma casa com grades, eis que surge um pittbull estressado que latia e arranhava as grades do portão. Vitinho simplesmente ria do cachorro inocentemente como que a desdenhar e a ignorar tamanha ferocidade...

14. Vitinho dorme e acorda sorrindo todos os dias faça chuva, faça sol, esteja frio ou calor, seco ou molhado. Ao chamá-lo para tomar remédio, ergue a cabeça sem hesitação, abre a boca como se fosse tomar a coisa mais doce do mundo.

15. Exercita diariamente 100% aquilo que eu mais detesto fazer: esperar. Espera para comer, ara beber água, para dormir, para descansar, para trocar suas fraldas esteja sujinho ou molhado. Espera, espera, espera...

16. Desprovido de vaidades, veste o que lhe é colocado.

17. Assim como, come o que lhe é dado.

18. Esta é a terceira igreja que Vitinho nos acompanha. Nunca teve “classinha” especial para ele, pois sempre tivemos que nos preocupar com os outros. Nem por isso deixamos o ministério que nos fora proposto indo para outra igreja onde tenha “tudo pronto”. Todavia é quem mais me ensina sobre a dependência de Deus.

19. Victor tem bigode e cavanhaque. Mas nele, isto parece decoração. É a nossa criança grande.

20. Com os seus chocalhos (feitos de garrafas pet com grãos de arroz, milho ou feijão) Victor se contenta em acompanhar o ritmo que ouve e adora o louvor cantado da igreja, sendo que, por algumas vezes se emociona ao extremo.

Vitinho completa 20 anos hoje. Nunca fui poupado de trabalho ou de crítica na missão de cuidá-lo. Muito menos as coisas foram mais simples para nós no exercício desta missão. Mas agradeço a Deus pela confiança dEle em nós (minha família e eu) de cuidarmos dEle, até o dia que assim Lhe aprouver.

Seu pai, amigo e pastor Mauro Clementino.